O beijo de Lamourette: Mídia, Cultura e Revolução

A Flip começou quarta e segue até domingo trazendo muitas discussões e novidades sobre Literatura e assuntos relacionados. Um dos nomes da festa literária é o historiador norte-americano Robert Darnton, que estará presente em duas mesas que debaterão o futuro do livro. A primeira, na quinta-feira às 19:30h, com Peter Burke e a segunda na sexta-feira às 10h, com John Makinson. E marcando a vinda de Darnton para o Brasil, a Companhia das Letras relançou no fim do mês passado O beijo de Lamourette: Mídia, Cultura e Revolução em formato de bolso.

Trata-se de uma série de textos publicados pelo historiador, que já na introdução Darnton deixa claro ao leitor que não apresentam necessariamente uma ordem ou conexão. E de fato, cada parte parece um pequeno livro que em comum tem apenas a relação do homem com o texto impresso, e muito da experiência do autor sobre a França do século XVIII para ilustrar o que está sendo comentado.É um livro de nicho, sim, o que poderia ser um problema. Normalmente apenas quem faz parte “do clube” consegue nutrir algum interesse que permita a leitura de uma obra assim até o fim. Mas O beijo de Lamourette: Mídia, Cultura e Revolução passa sem dificuldades no teste de livro que também é indicado para o Leitor Culto Médio (termo utilizado pelo autor). Até porque Darnton parece ser claramente o caso de pessoa com muito para compartilhar, seja considerando os tempos que trabalhou como jornalista (que rende o ótimos capítulo 5 da Parte II), como membro do conselho editorial da Princenton University Press (quando com um senso de humor no capítulo 6 da Parte II dá dicas para os acadêmicos que desejam ver seus trabalhos publicados) ou mesmo o modo como apresenta a Revolução Francesa (no capítulo de abertura).

São detalhes que dão vida a um texto que poderia ser apenas técnico, despertando a curiosidade mesmo da pessoa que não seja da área. Naturalmente no meu caso o ponto alto foi justamente quando Darnton começa a trabalhar com a combinação entre História e Literatura (a partir da parte III). O capítulo I da parte III, que apresenta a disciplina História dos Livros, foi extremamente empolgante para mim. Durante minha passagem pela graduação em Letras, quando se falava em História e Literatura o que tínhamos normalmente era uma contextualização da obra, buscando a partir de fatos históricos buscar mais do significado de um livro.

Mas quando Darnton faz todo um levantamento sobre as relações dos livreiros do século XVIII com Questions sur l’Encyclopédie de Voltaire foi como se depois de anos morando em uma casa eu descobrisse que ela tinha um cômodo que eu ainda não visitara. O mesmo vale para quando o autor fala da História da Leitura, lembrando o óbvio de que a relação com o livro que temos hoje não é a mesma de períodos anteriores na história (passando da leitura como uma atividade em grupo para uma atividade privada, por exemplo).

E disso tudo vale lembrar que a obra foi originalmente publicada em 1989 (aqui no Brasil um ano depois), e consegue se manter atual (com exceção talvez ao capítulo que fala da Polônia, ainda em tempos de URSS). Quando fui chegando próximo ao fim, onde Darnton chega a discutir as razões pelas quais termos como cadela (bitch) ou de filho de uma cadela (son of a bitch) são tabu na cultura de língua inglesa, eu me arrependi profundamente de não ter conhecido o trabalho dele antes, para de repente dar uma escapadela para a Flip. Como consolo fica o lançamento mais recente dele, A Questão dos Livros, que chegou no Brasil pela Companhia das Letras em abril desse ano.

(Sim, esse post foi publicado antes lá no blog do Meia Palavra. Se ainda não o conhece, é um bom momento para passar lá =P )

Um comentário em “O beijo de Lamourette: Mídia, Cultura e Revolução”

  1. Daniela – Porto Alegre/RS – Professora, vegana, feminista, aprendiz. Meu peito é de sal de fruta fervendo num copo d'água. Uma esquisitona [r]existindo.
    Daniela disse:

    ótima notíca. é uma briga consguir esse livro na biblioteca do departamento de história aqui na UFRGS. e usei muito no meu projeto de TCC e pretendo usar ainda mais no próprio.

    beijos

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