Hellfire Club Onze e Meia

hellonzeSempre imaginei como seria bacana poder entrevistar alguns escritores que admiro mas que já bateram as botas. Foi pensando nisso que resolvi criar o Hellfire Club Onze e Meia, uma entrevista de mentirinha na qual pego frases do autor para elaborar as respostas. Vou começar com o Oscar Wilde, pelo simples fato do cara ter sido praticamente uma fábrica de citações, o que facilita bastante a brincadeira. As “respostas” foram todas retiradas do livro Aforismos, publicado pela editora Newton Compton em 1995 mas eu sugiro fortemente a leitura das obras do Wilde para o caso de quererem contextualizar o que está escrito aqui.

Sugestão de leituras: o artigo da wiki em inglês, para começar. Tem algumas edições de obras (quase) completas do Wilde rolando por aí, entre elas Obras Primas de Oscar Wilde da Ediouro, e a editora Landmark acabou de publicar uma edição bilíngue de O Retrato de Dorian Gray, que no final das contas é a obra mais conhecida dele. E se quiser falar sobre ele, lá no Meia Palavra já temos um tópico do autor, dá uma passadinha para conferir. E agora vamos ao Hellfire Club Onze e Meia!

Hellfire Club: Bom dia, senhor Wilde. Vamos começar com o básico, nome e data e local de nascimento.

Oscar Wilde: Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde, nasci em Dublin no dia 16 de outubro de 1854.

HC: O senhor mudou para Londres ainda relativamente jovem, qual sua opinião sobre a cidade?

OW: Londres tem neblina e gente séria demais. Se é a neblina a criar gente séria ou se é a gente séria a criar a neblina, isto não sei dizer.

HC: Mas você foi aceito rapidamente na alta sociedade londrina.

OW: Para entrar na alta sociedade hoje em dia é preciso comprazer as pessoas ou saber diverti-las, ou escandalizá-las; basta isto.

HC: Mas essas relações de alguma forma contribuiram para sua função de escritor?

OW: A sociedade é uma necessidade. Sem o apoio das mulheres nada se consegue, e as mulheres são as rainhas da sociedade. Se você não tiver as mulheres ao seu lado, estará acabado. Tanto faria, então, tornar-se logo advogado, operador da bolsa ou jornalista.

HC: Uhum. Falando em mulheres, e seu casamento com Constance? Levando em consideração seu envolvimento com Alfred Douglas, como o senhor se vê como marido?

OW: Há maridos que são como uma lista de promessas que as mulheres se cansam de ler.

HC: Mas o senhor acredita em casamentos felizes?

OW: Que bobagem falar de casamento felizes; um homem pode ser feliz com qualquer mulher, desde que não a ame de verdade.

HC: E do que então depende a felicidade de um homem casado?

OW: A felicidade de um homem casado depende das mulheres com as quais não se casou.

HC: Muito foi comentado sobre o seu relacionamento com Alfred Douglas. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

OW: Só há uma coisa pior do que estar na boca do povo; e é ser simplesmente ignorado.

HC: E podemos dizer que existem traços biográficos em obras suas como por exemplo O Retrado de Dorian Gray”?

OW: O artista deve criar coisas bonitas mas sem infundir nelas traço algum de sua vida. Vivemos numa época em que os homens tratam a arte como se ela tivesse que ser uma forma de autobiografia. Perdemos o sentido da beleza abstrata.

HC: Mesmo assim, algumas pessoas costumam ver Alfred Douglas em Dorian Gray.

OW: Aqueles que interpretam um símbolo o fazem por sua própria conta e risco.

HC: Uhum. Mudando de assunto, há alguma celebridade que gostaria de conhecer?

OW: A única pessoa no mundo que gostaria de conhecer profundamente sou eu mesmo, mas por enquanto não vejo a menor possibilidade disso acontecer.

HC: Certo, vamos então para um bate-bola. Para o senhor, o que é um cínico?

OW: O que é um cínico? Um homem que sabe o preço de tudo e o valor de nada.

HC: Uma definição para o sexo feminino.

OW: Uma esfinge sem segredos.

HC: A diferença entre o jornalismo e a literatura.

OW: O jornalismo é ilegível, a literatura não é lida.

HC: A diferença entre o santo e o pecador.

OW: O santo tem passado, o pecador tem futuro.

HC: A diferença entre livros morais e imorais.

OW: Não há livros morais e livros imorais. Há livros bem escritos e mal escritos. E só.

HC: Se pudesse jogar algo fora hoje, o que seria?

OW: Há muitas coisas das quais nos livraríamos com alegria se não houvesse outras pessoas dispostas a usá-las.

HC: Para terminar, senhor poderia dar um conselho para os jovens escritores do Brasil?

OW: É sempre bastante bobo dar conselhos; agora, dar bons conselhos é fatal.

4 comentários em “Hellfire Club Onze e Meia”

  1. Hahaha, que massa isso. Uma ótima idéia sua, muito criativa. Adorei a “resposta” dele pra pergunta sobre qual celebridade ele gostaria de conhecer.
    O único porém do título que você deu ao programa de entrevistas é o perigo de muita gente não sacar a origem, já que faz um bom tempo que o programa de entrevistas do Jô mudou de nome, rs
    Até mais =)

  2. Menina, ninguém pode acusá-la de ser sem imaginação, hehehe. Muito bom. Gostei muito do bate-bola: a diferença entre o santo e o pecador é maravilhosa! 😀 😀 😀

    bjks.

  3. Caramba, muito bem bolado mesmo! E, ahhh, o cara não gostava de jornalismo!!! Fora isso, a idéia é muito legal, melhor até que os Blogs do Além, da carta capital! Hehehe! E infelizmente eu sou velho o suficiente pra entender o nome do “programa”. 🙁

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