Robert Frost e a poesia

Eu às vezes vejo a poesia como uma floresta: você vai abrindo seu caminho para o coração da mata aos poucos, vencendo medos (“Poesia é só para gênios!”), se alimentando de uma ou outra fruta coletada ao longo da jornada (“Ei, esse poeta é bom mesmo!”) e claro, utilizando mapas desenhados por quem já esteve lá (ou o conhecido “seguir a indicação de professores e amigos”). Mas, ao contrário do que acontece em uma exploração em um espaço real, com a poesia parece que você dificilmente desvendará todo o caminho.

Veja o meu caso, por exemplo. Eu demorei para me encantar pela poesia, de verdade. Acho que os primeiros poetas que de fato curti foram alguns haijins (não estou lembrada se é bem esse o termo usado para quem escreve haikai, quem souber por favor confirma aí), apresentados para mim através de uma coletânea de haikais da Estrela. A paixão completa mesmo só veio na universidade, com alguns professores como a Luci e o Édison, que, continuando na metáfora da floresta, entregaram não só mapas mas fotos mostrando toda a beleza desse espaço.

E aqui você me pergunta: “Mas peraí, Anica, o que o Robert Frost tem a ver com tudo isso?” Tem a ver com a questão da abrangência desse campo. Sou bacharel em estudos literários e só conheci Robert Frost de fato após terminar o curso. É culpa de professor? Não. Porque eu tenho certeza que Robert Frost já esteve na minha frente, mas eu não conseguia enxergá-lo. É quase como você curte o som de determinada banda toda vez que escuta, mas por não saber o nome da banda simplesmente passa batido e nunca entra na sua lista de favoritos.

Pois o Frost é muito, muito citado na cultura pop. Neil Gaiman, por exemplo, já bebeu dessa fonte (e eu até comentei sobre isso no Hellfire). E o poema “Stopping by the Woods on a Snowy Evening” tem uma listinha de referências lá na Wiki, sendo uma das mais modernas o Death Proof do Tarantino (os versos que a Jungle Julia diz para seus ouvintes recitarem para Butterfly em troca de uma lap dance é na verdade a última estrofe do poema).

Mas a minha favorita mesmo, a que eu queria compartilhar com vocês e por isso até comecei essa conversa sobre o Frost, é “The Road Not Taken“. Para quem não entende inglês, segue aí uma tradução de José Alberto Oliveira:

A estrada que não foi seguida

Duas estradas separavam-se num bosque amarelo,
Que pena não poder seguir por ambas
Numa só viagem: muito tempo fiquei
Mirando uma até onde enxergava
Quando se perdia entre os arbustos;

Depois tomei a outra, igualmente bela,
E que teria talvez maior apelo,
Pois era relvada e fora de uso;
Embora, na verdade, o trânsito
As tivesse gasto quase o mesmo,

E nessa manhã nas duas houvesse
Folhas que os passos não enegreceram.
Oh, reservei a primeira para outro dia!
Mas sabendo como caminhos sucedem a caminhos,
E duvidava se alguma vez lá voltaria.

É como um suspiro que conto isto,
Tanto, tanto tempo já passado:
Duas estradas separavam-se num bosque e eu –
Eu segui pela menos viajada,
E isso fez a diferença toda.

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