Eu não sou gato de Ipanema…

inescritos… sou bicho do Paraná! Não sei porque, mas sinto certa nostalgia ao ouvir essa música. De qualquer forma, queria antes de mais nada deixar claro que esse não é um post bairrista, embora tenha começado desse jeito. Nem quero falar das belezas do meu estado (repararam que no mapa da previsão do tempo está quase que só o Paraná azulzinho?!), muito menos de memórias do passado.

A questão é o mercado editorial no Brasil, e de quanta coisa boa perdemos por causa desse círculo vicioso do “ler clássico ou ler aqueles livros altamente divulgados”. Chega livro do Umberto Eco todo mundo fica louco para ler. Lya Luft e aquela campanha gigantesca envolvendo até cartazes na rua, fica quase impossível fugir. Até um Dan Brown para poder falar mal depois, a gente acaba lendo.

Eu citei todas as qualidades de autores (literalmente) para que fique claro que a questão aqui não é que só estamos lendo livros ruins, mas que infelizmente o pouco que conhecemos de literatura contemporânea está intimamente ligado com a propaganda que é feita da mesma. Eu cheguei a essa conclusão depois que a Luci gentilmente deu para mim e para a Jo dois livros que ela escreveu – livros que me deixaram de queixo caído.

Aí fico pensando: por que, afinal de contas, Luci Collin era para mim sinônimo de “uma professora fantástica de Literatura”, mas nem passava na minha cabeça que autora brilhante ela é? Falta um pouco de curiosidade para ir atrás do novo. Nos acomodamos com a falsa idéia de que nada do que é feito hoje em dia presta, e arrogantemente só vamos dar uma “conferida” no que foi resenhado pela Veja, pelo prazer de meter o pau depois.

E aí, perdemos a oportunidade de conhecer obras como Precioso Impreciso e Todo Implícito da Luci. E sabe o que mais? É coisa nova não só no sentido de “livro não lido na estante”, mas de ser inovador mesmo: tema, estilo, tudo. Eu pessoalmente fiquei apaixonada com o “Auto-Oxidação”, que tem um trecho assim:

“tenho: sogro e sogra, cirurgia adiada, conta de luz-água-telefone-celular-tv a cabo, freezer combinando com a geladeira, convite para festa de aniversário de criança aos sábados, toalha de natal com rendinha, estrias discretas, receita de pão de queijo, seguro contra incêndio, jogo de porcelana inglesa completo menos a terrina que a empregada derrubou, cabelo precisando de banho de óleo, liquidificador no conserto. e o pior de tudo: saudades”.

Eu aconselho fortemente que tão logo surja uma oportunidade, você leia algo dela. Não porque é “bicho do Paraná”, mas porque é um belo tapa para aqueles que (como eu), achavam que de novo não há nada de bom. Falta é procurar.

5 comentários em “Eu não sou gato de Ipanema…”

  1. Concordo com você quanto a questão da idade, realmente, ver um garoto de 15 anos fazendo tudo aquilo que o Alex faz seria muito mais chocante, seria de mau gosto até.

    Quanto ao final ainda acho que foi melhor Kubrick ter cortado o último capítulo, ia ficar meio “fora do clima” do filme. Mas é só minha opinião.

    Infelizmente eu não li essa introdução que você falou, o livro que eu li foi uma edição pré-histórica da década de 70. Agora, na primeiro livraria que eu entrar vou sentar no chão, pegar o livro e ler.

  2. Clássicos são clássicos e nunca morrem, porém, a nova literatura que está aí precisa urgentemente de espaço e de leitores… Vide André Sant’anna, Marcelino Freire, Ademir Assunção, Manoel de Barros, João Gilberto Noll entre outros, muitos outros. São caras que fazem uma puta literatura… bem, e quem quiser tirar prova basta ler.

    Leia: A máquina peluda, de Ademir Assunção.
    O livro das ignorãças, de Manoel de Barros.
    Angu de Sangue, de Marcelino Freire.
    leiam o conto “A lei”, de André Sant’anna, cuja prosa está na antologia de “Contos cruéis: as narrativas mais violentas da literatura brasileira”, Geração Editorial.
    Ainda há caras como Mario Bortolotto, Mirisola… puta! há uma porrada de gente fazendo literatura… até professores como a citada Luci Colin, o Marcelo Sandmann, Silviano Santiago, Cristovão Tezza………………….

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