Morte – A Festa

Antes de tudo, aproveitando o assunto das Traduções Horripilantes deixo aqui a pergunta: afinal, por que traduziram o bem sacado trocadilho At Death’s Door para “A Festa”? Gee.

Enfim, quem pensou “Ah, a Anica vai falar da Morte, ela que é louca por Sandman só vai se desmanchar em elogios…” errou. As pessoas comentavam bastante sobre essa história que saiu aqui no Brasil no começo de 2004, e eu sempre mantinha meu pé atrás porque, apesar de ilustrada pela Jill Thompson (a mesma dos Pequenos Perpétuos, não era escrita pelo Mr. Gaiman.

E bem, Mr. Gaiman faz falta.

A idéia é bem legal, apesar de ser obviamente um “vamos aproveitar que o treco fez sucesso e faturar uns aí”: a história situa-se na época do arco “Estação das Brumas“, história na qual Lúcifer pede as contas, fecha o Inferno e larga a chave com o Sonho. No caso de “Morte – A Festa”, vemos como a irmã mais velha de Morpheu lidou com os mortos que não tinham mais onde ficar.

E olha, é engraçadinho. O problema é que é engraçadinho demais. Aquele estilinho mangá misturado com frases como “By the power of the ankh” chegam a soar irritantes. Porque sim, o Sandman do Gaiman tem alguns momentos engraçados, mas não é… ok, terei que usar o termo… infantil.

O que acontece é que a história é um chove-não-molha: em alguns momentos temos toda a complexidade de Sandman (ok, reaproveitada) e outras temos Delirium fazendo gracinhas do tipo que satisfazem fãs de Digimon. Eca.

Para não dizer que odiei totalmente: Edgar Allan Poe se apaixonando pela Desespero foi ótimo. Mas credo, ainda bem que não cheguei a comprar, jamais me perdoaria (na verdade, me perdoaria assim que trocasse a revista por algo melhor em um sebo hehe)

13 comentários em “Morte – A Festa”

  1. Eu ainda não li Coraline =/
    Na verdade, depois de “Deuses Americanos” eu fiquei com um pé atrás sobre o Gaiman. Ele mandou muito bem em Sandman, mas em alguns momentos parece que quer ser clone de Stephen King 😮

  2. At Death’s Door foi obviamente mais uma tentativa de pular no trem do mangá enquanto ele ainda está em movimento e lucrar o máximo possível antes dele chegar na próxima estação. O bizarro é que a Vertigo tentou enfiar na cronologia daqueles personagens uma história cuja sensibilidade não tem absolutamente nada a ver com eles, agindo como se fosse isso fosse absolutamente normal. Eu não lembro de nada, no entanto, e não pretendo reler pra relembrar.

    E btw, Deuses Americanos é bem foda apesar de formalisticamente “cru” (o que pode até ser uma vantagem dependendo do ponto de vista) — eu até entendo a relação com Stephen King, no que diz respeito à ambientação iconicamente americana e no fato de ser basicamente um thriller urbano sobrenatural, mas existem diferenças fundamentais. “Deuses” é principalmente sobre a diluição cultural causada pela imigração, explorada através da revelação de um mundo semi-imaginário que sempre esteve atrás da cortina da realidade, enquanto os livros do King sempre foram mais sobre a paranóia de se estar “do outro lado do espectro”, com o sobrenatural quase sempre simbolizando opressão, preconceito, traumas, etc. E eu sempre achei o King meio difícil de digerir por ter a impressão de que ele tenta desesperadamente criar uma ilusão de densidade; o Gaiman foi mais honesto quanto às próprias limitações.

  3. E outra coisa, sobre a tradução, é mais um caso de emburricite crônica, mal que assola 99% das publicações culturais do terceiro mundo. Basicamente, a premissa é de que o nosso povo não é esperto o suficiente pra sacar simbolismo, metáforas, ambigüidade, e tudo o mais que separa, digamos, uma bula de remédio de alguma coisa do Joyce, ou um retrato-falado policial daquele auto-retrato do Van Gogh com o curativo no lugar onde previamente existia uma orelha. Você vê bastante isso em filmes, onde os títulos geralmente tentam a) colocar as coisas preto-no-branco, explicando estupidamente os títulos (muitas vezes de forma inutilmente prolixa) ou b) fazer alguma relação com outros filmes “de sucesso”.

    PS: Sobre Meninos e Lobos foi citado nos comentários do post da Ana sobre traduções como um bom título, mas eu não consigo ver como alguém poderia achar isso. É um título totalmente retardado e exemplifica perfeitamente o caso (a) mencionado acima. Por que o original se chama Mystic River? Talvez o rio tenha, não se assustem… algum SIGNIFICADO?! Ele ainda atinge níveis sofisticados de emburrecimento, incluindo até a palavra “sobre”. Não é um título, é uma sinopse.

  4. Depois de posts altamente elucidativos e culturais:
    – Qual foi a caca que a Miu fez??? :love:
    Conta pra mim! Vai?
    Aquela foto até fez eu esquecer que estava braba porque ninguém me avisa de nada nessa família. Tsc.

    BjoS!

  5. V, você é muito prolixo 😮 Vou responder a Marília antes que é mais rápido, hehe.

    Marilia on 19 Dezembro, 2005 at 9:14 pm said:

    Depois de posts altamente elucidativos e culturais:
    – Qual foi a caca que a Miu fez??? :love:
    Conta pra mim! Vai?
    Aquela foto até fez eu esquecer que estava braba porque ninguém me avisa de nada nessa família. Tsc.

    BjoS!

    A Miu está tomando remédio, e bem, o remédio deu caganeira nela. Só que tipo, ela quase nunca teve disso, e ela surta, acho que pensa que tem algo preso no rabinho, sei lá. E o que ela faz? Corre pela casa toda, fazendo cocô enquanto corre. 😯

    Isso já seria suficientemente ruim, mas ela conseguiu piorar: fez isso às 4:30 da manhã :uhu:

    E sobre o avisar, é da minha mãe? Ela já está em casa, tá tudo bem agora. acho que ela não queria falar para as pessoas para não preocupar, sabe como ela é =/

  6. De trás pra frente :mrpurple:

    V on 19 Dezembro, 2005 at 7:53 pm said:

    E outra coisa, sobre a tradução, é mais um caso de emburricite crônica, mal que assola 99% das publicações culturais do terceiro mundo. Basicamente, a premissa é de que o nosso povo não é esperto o suficiente pra sacar simbolismo, metáforas, ambigüidade, e tudo o mais que separa, digamos, uma bula de remédio de alguma coisa do Joyce, ou um retrato-falado policial daquele auto-retrato do Van Gogh com o curativo no lugar onde previamente existia uma orelha. Você vê bastante isso em filmes, onde os títulos geralmente tentam a) colocar as coisas preto-no-branco, explicando estupidamente os títulos (muitas vezes de forma inutilmente prolixa) ou b) fazer alguma relação com outros filmes “de sucesso”.

    PS: Sobre Meninos e Lobos foi citado nos comentários do post da Ana sobre traduções como um bom título, mas eu não consigo ver como alguém poderia achar isso. É um título totalmente retardado e exemplifica perfeitamente o caso (a) mencionado acima. Por que o original se chama Mystic River? Talvez o rio tenha, não se assustem… algum SIGNIFICADO?! Ele ainda atinge níveis sofisticados de emburrecimento, incluindo até a palavra “sobre”. Não é um título, é uma sinopse.

    Exatamente. O único problema que eu vejo nisso é: wtf, esse pessoal não sabe reconhecer para qual público é direcionado determinado filme? Dá até para entender a necessidade que eles têm de explicar di-rei-ti-nho as coisas quando é um filme mais “pop” (hum, não vou lembrar de exemplo agora hehe), mas no caso do Mystic River (do qual vou falar depois), não é filme que a tia crotilde vai assistir, entende? Não tem a necessidade de deixar a coisa ‘crua’ para facilitar a digestão ou coisa assim

    E sobre o Mystic River, concorda que o título tem um significado grande DEMAIS dentro da história? Quase um spoiler e tal. Sei lá, é quase o caso do Angel Heart. 😮

  7. Por partes =]

    V on 19 Dezembro, 2005 at 6:34 pm said:

    At Death’s Door foi obviamente mais uma tentativa de pular no trem do mangá enquanto ele ainda está em movimento e lucrar o máximo possível antes dele chegar na próxima estação. O bizarro é que a Vertigo tentou enfiar na cronologia daqueles personagens uma história cuja sensibilidade não tem absolutamente nada a ver com eles, agindo como se fosse isso fosse absolutamente normal. Eu não lembro de nada, no entanto, e não pretendo reler pra relembrar.

    Eu pretendo esquecer, pelo menos se possível for. A coisa ficou completamente descaracterizada, o Sonho, por exemplo, é todo surtadinho (quando na maioria das vezes é um cara bem frio). Bleh, um lixo. Os desenhos são cute, pelo menos 😆

    Nossa, odeio o lol do meu blog

    V on 19 Dezembro, 2005 at 6:34 pm said:E btw, Deuses Americanos é bem foda apesar de formalisticamente “cru” (o que pode até ser uma vantagem dependendo do ponto de vista) — eu até entendo a relação com Stephen King, no que diz respeito à ambientação iconicamente americana e no fato de ser basicamente um thriller urbano sobrenatural, mas existem diferenças fundamentais. “Deuses” é principalmente sobre a diluição cultural causada pela imigração, explorada através da revelação de um mundo semi-imaginário que sempre esteve atrás da cortina da realidade, enquanto os livros do King sempre foram mais sobre a paranóia de se estar “do outro lado do espectro”, com o sobrenatural quase sempre simbolizando opressão, preconceito, traumas, etc. E eu sempre achei o King meio difícil de digerir por ter a impressão de que ele tenta desesperadamente criar uma ilusão de densidade; o Gaiman foi mais honesto quanto às próprias limitações.

    😮

    O que eu gosto de você é que faz com que eu veja as coisas sob um ponto de vista completamente diferente, até tive vontade de reler Deuses Americanos. Acho que a comparação morre mesmo na questão do estilo, elementos aqui e acolá que são parecidos (a questão da mulher dele voltando dos mortos é total SK, não?).

    Ok, relerei e então verei se mudo de idéia :love:

    Tem Anansi Boys para sair, né? Com sorte ele vem divulgar por aqui hehe

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