My Mad Fat Diary

tumblr_nr14w2apcm1r5uo2ao1_1280Ok, séries com grupos de adolescentes lidando com os dramas típicos da idade aparecem aos montes por aí. E mesmo temas como a dificuldade em se aceitar quando a garota do outdoor te diz que você não é o que as outras pessoas querem não são exatamente novidade nos dias de hoje. Mas My Mad Fat Diary é tão, mas tão bem executada que entra naquela categoria “Sério, em algum momento você vai ter que assistir”. Assim, desse jeito mesmo.

Por uma coincidência bizarra eu comecei a assistir uns poucos dias antes do último episódio (foi ao ar dia 6 de julho) e acabei as três temporadas em uma semana. É engraçado, tem série que eu demoro para engatar e aí realmente assistir um episódio após o outro, no caso de My Mad Fat Diary já no primeiro eu pensei “ok, essa você vai ter que economizar” (e como deu para perceber, não consegui).

Baseada em um livro do mesmo nome (que eu ainda não li), a série conta a história de Rachel “Rae” Earl, uma garota que acabou de sair do hospital psiquiátrico onde passou um período internada após tentar suicídio. Rae sofre de ansiedade, além de ter uma auto-estima baixíssima por conta de ser uma pessoa acima do peso. Ao voltar para casa ela por acaso reencontra uma amiga de infância, Chloe, que a apresenta para um novo grupo de amigos. Detalhe: todo mundo acha que ela esteve na França no período em que esteve internada.

E o bacana é que embora no livro tudo isso aconteça nos anos 80, para a série a opção foi de trazer um pouco mais para frente, na década de 90. Mais especificamente, 1996. Eeeeeeu fui adolescente em 1996, a identificação com tudo aquilo foi imediata, principalmente por causa do cuidado que tiveram com a seleção das músicas para a trilha. É perfeito, simplesmente perfeito. Por exemplo, quando Rae observa de longe aquelas pessoas sem saber que logo eles seriam todos grande amigos, a música que toca no fundo é Beautiful Ones do Suede. Quase morri quando um episódio acabou com A Letter to Elise (a minha favorita) do Cure. Aliás, sempre que acabava o episódio eu tinha que reservar um tempo para voltar a escutar esse tanto de música que eu até esqueci que adorava.

Por sorte não estamos na década de 90 e a internet está aí super acessível, e pans, não leva muito tempo para achar sites com lista de todas as músicas que tocam na série inteira. Por exemplo, aqui dá para encontrar inclusive dividido por temporada e em cada temporada, por episódio: My Mad Fat Diary Music. Como deve ficar bem claro já no primeiro episódio, a série acaba explorando muito bem aquela capacidade que as canções têm de nos transportar no tempo. Você não se emociona só pela situação que Rae está passando ao ouvir Champagne Supernova chorando no quarto: você lembra imediatamente de em algum momento ter de alguma forma se trancado no seu quarto e pensado que o que sentia era o fim do mundo, enquanto ouvia a mesma música.

Aí você pensa que se é só pela música tanto faz, melhor assistir aos clips no youtube ou fazer uma playlist e buenas, mas calma, não é só isso. Quando disse que é bem executada não foi só por conta da trilha. Tem um cuidado no desenvolvimento da história em si que passa longe do que vemos normalmente. Algumas cenas (principalmente da primeira temporada) são lindíssimas, como quando Rae está se olhando no espelho e então tira o que seria uma “roupa” de pessoa obesa, ao som de Fake Plastic TreesAnd if I could be, who you wanted/If I could be who you wanted/All the timeÉ lindo demais, mesmo. Mas tem um monte de outras tão bacanas quanto essa. Tem até uma que copia aquela abertura de Trainspotting, em que Renton está fugindo ao som de Lust for Life!

Mas tem também a questão da narrativa em si, o modo de contar os dramas de Rae. Tem algo que acontece em vários episódios e que funciona muito bem como um modo de surpreender quem está assistindo: abertura com Rae alguns dias depois dos eventos que ela narrará em seu diário, criando uma expectativa sobre o que aconteceu para que ela chegasse naquele ponto. Algumas vezes a surpresa é até engraçada (SPOILER, etc), como quando vemos Rae acordando de manhã com os dois olhos roxos, depois ficamos sabendo que uma colega a está ameaçando na escola para no fim descobrirmos que umas latas caíram na cabeça dela quando ela abriu um armário.

E eu sei que até pelos temas que aborda tudo levaria a crer que My Mad Fat Diary seria uma série daquelas que você precisa ter sempre o lencinho ao lado, porque é choro toda hora (não nego, chorei em alguns episódios, sim hehe), mas o senso de humor de Rae contamina a série de um jeito que em um momento você está rindo um monte e logo depois está lá, choraaaanu, sofreeenu com a personagem.

Por falar em personagem, embora é óbvio que Rae é uma das melhores ali (embora enxergá-la com os olhos de Chloe na segunda temporada mude um pouco a ideia que se faz dela), mas o grupo principal é todo muito bem desenvolvido – mesmo o Chop que serve quase de alívio cômico. Archie é um amor, Chloe se desenvolve muito da primeira para a última, Izzy é aquela guria fofa do grupo que todo mundo adora, etc. E tem o Kester, terapeuta de Rae – embora todos os adultos sejam representados daquele jeito meio patético como normalmente são em séries voltadas para o público jovem, Kester é a exceção, e até por isso a pessoa que ela sempre procura quando em situação complicada (e gente, o final do s02e01 foi de matar).

Por incrível que pareça, o único que me incomoda um tanto é o Finn. Eu consigo entender qual é a dele (o cara tímido mas gato que acaba se incomodando com todo o assédio e blablabla), mas às vezes eu ficava com a sensação de que SPOILERS para um sujeito que gosta tanto de Rae, às vezes ele parecia ser o que menos a compreendia. Achava que a relação de Rae com Archie era muito mais legal – até porque apesar de ele fazer uma piada sobre ser o esteriótipo de amigo gay, não acho que seja bem assim.

Enfim, se você foi adolescente nos anos 90, veja. Se você não foi, veja também. Não acho que seja só o fator nostalgia falando alto ali, é realmente muito bem feita.

Agora vou começar outra série britânica que dizem ser mais ou menos parecida com My Mad Fat Diary, Raised by Wolves. Eu normalmente não confio nessas indicações por similaridade, mas vi que foi escrita pela Caitlin Moran e olha, tem muitos diálogos em My Mad Fat Diary que por um momento pensei “hmmm já vi isso em algum lugar” e depois lembrei: How to Build a Girl. Acho que com isso já dá para ter uma noção do que eu quero dizer.

(antes que eu me esqueça, um comentário sobre o finale que não é spoiler: Archie cantando Lucky Man, que cena <3 <3 <3)

6 comentários em “My Mad Fat Diary”

        1. A primeira coisa que eu fiz foi procurar lá tb hahaha mas olha, o lado bom é que são poucos episódios, é bem tranquilo de baixar. =]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.