Só para manter o registro

O bom e velho post com um breve comentário sobre livros que li mas dos quais não falei aqui.

subjectThe Subject Steve (Sam Lipsyte): Fiquei sabendo sobre esse livro porque a Sutil Companhia tinha feito uma peça baseada nele, mas como só tinha livro de papel fiquei me enrolando até sair uma edição para o kindle. Enfim, é legal, mas acho que fiquei no “meh” porque li com as expectativas lá no alto já que outros dois livros que renderam peça da Sutil eu adorei, Alta Fidelidade (A Vida é Cheia de Som e Fúria) e Love is a Mixtape (Trilhas Sonoras de Amor Perdidas).

A proposta é bem maluca e o desenvolvimento mais ainda: um cara saudável (Steve) é diagnosticado com uma doença que lhe dá poucos dias de vida. Detalhe é que mal avançamos na leitura e ficamos sabendo que o que o que Steve tem é meio que o que todos nós temos: a certeza de que morreremos eventualmente já que estamos vivos.

Boa parte das melhores piadas saem disso, mas a metralhadora do Lipsyte dispara para todo lado da nossa vida “moderna” e todas as maluquices inclusas no pacote. Em um outro post já tinha comentado um tico dele aqui, dizendo que “é um livro com bons momentos mas que não mexeu comigo o suficiente para sentar aqui e escrever sobre ele. Basta dizer que tem uma pitada de Tibor Fischer (alou, Sol!), que tem uma ideia bem sacada só que em determinado momento ele começa a se repetir tanto, tanto, que cansa. Seria uma novela excelente, e é um romance mediano“.

“Was I living?” I said.

“Wow”, said Desmond. “Don’t talk. Don’t say another thing. Those should be your last words. Mythic, man. I knew you had style.”

O Louco de Palestra (Vanessa Barbara): Eu tenho cá minha queda por crônicas, especialmente quando elas chegam como um “Best of” de algum autor de quem você já leu algo que gostou, por isso nem pensei duas vezes quando pintou a oportunidade de ler essa reunião de textos da Vanessa Barbara (que escreveu o Noites de Alface, uma das minhas melhores leituras do ano passado).

Seguindo aquela característica peculiar das crônicas, mesmo falando de algo bem específico (como os primeiros textos descrevendo a rotina de Mandaqui), ainda assim consegue falar para o leitor que desconheça o que está lendo ali. É através do corriqueiro que a familiaridade se estabelece: conversas ao celular no ônibus, a veja fora do plástico ou detalhes da vida a dois.

Tem ainda o senso de humor, afiadíssimo e que rende boas risadas (eu não sei sobre você, mas meço o nível de graça num livro quando dou risada MESMO, rindo alto, e não aquele riso meio contido de “opa, vão pensar que estou maluca aqui”). Tem coisa que parece que fica ainda mais engraçada por ser uma menção a algo presente em texto anterior (como as tartarugas, por exemplo) – meio que a autora não precisa explicar, a gente já lembra de outra parte da leitura o que ela quer dizer com aquilo.

Gostei bastante e recomendo especialmente para quem entrou em fase de ressaca literária, ou que não está podendo se dedicar muito a alguma leitura: como as crônicas são curtinhas, você começa e termina bem rápido, sem aquela aflição de capítulo inacabado que leitura de romance às vezes dá (só eu que tenho essa aflição?).

Pessoas vão embora e, na partilha extrajudicial, ficamos com os restos.

Um útero é do tamanho de um punho (Angélica Freitas): Vou abrir o comentário já pedindo desculpas, aquela coisa de sempre, poesia não é bem minha praia. Não sou do tipo que diz que não gosta (até porque eu gosto, ué), mas normalmente me prendo muito mais ao campo das ideias que os versos apresentam do que ao ritmo e forma, por exemplo. Então se você sentir que deixei coisa de lado, é porque deixei mesmo, malz aí.

De qualquer modo, na parte das ideias: ô loco. É uma pancada. E tão atual, quase que como crônica em verso – foi até curioso ter começado a leitura logo após O Louco de Palestra.  Mas pense em um texto bem ácido, daqueles de enfiar o dedo na ferida mesmo. O útero do título meio que já canta a bola, o tema principal (e não o único, vale ressaltar) é a mulher. Mas não a mulher perfeita e idealizada dos poetas românticos, é a mulher e ponto.

Aliás, para quem pensa que poesia é só coisa fofa (sei lá, né, vai que exista gente assim), está aí uma boa leitura. Remédio também para sujeito que usa termos como “feminazi” para falar de mulheres, fica a dica.

não queria fazer uma leitura

equivocada

mas todas as leituras de poesia

são equivocadas.

Cartas de Amor aos Mortos (Ava Dellaira): Já tinha algum tempo desde meu último YA, resolvi dar uma olhada nesse que estava sendo bastante comentado. E putz, putz, putz. Provavelmente o pior livro que li este ano.  Laurel está lidando com a perda da irmã mais velha e acaba usando uma tarefa de inglês para ajudá-la a expor seus sentimentos: escreve cartas para celebridades que já morreram (essa parte meio que dá para entender pelo título, mas achei melhor comentar de qualquer modo).

Enfim, o lance é que a Laurel sofre daquela maldição bem conhecida dos YA a MPM (maldição da protagonista mala), e é tão difícil se envolver com o que ela está contando, que talvez o que mais tenha me prendido à leitura foi tentar saber o que diabos aconteceu com a irmã dela.

Para piorar, as cartas parecem seguir sempre o mesmo esquema, com um comentário sobre algo da biografia do defunto famoso com o qual Laurel acabe se identificando. Mas assim, nada que você provavelmente já não saiba, então tem que resistir ao desejo incontrolável de pular aqueles parágrafos e seguir em frente.

Vi alguém dizendo que é parecido com As Vantagens de Ser Invisível e o que tenho a dizer é que NÃO, não é parecido. As Vantagens é gostoso de ler, esse foi uma tortura.

(não tem citação porque né)

The Retribution of Mara Dyer (Michelle Hodkin): Vai ficar parecendo que é má vontde com YA mas não é. Já tinha comentado sobre os dois primeiros livros no começo do ano, e a verdade é que considerando o que a autora fez com a história no segundo livro, parecia meio óbvio que era meio que um caminho sem volta para a whatafuckland.

Mara foge do hospital onde estava internada em busca de respostas sobre seu “poder” e todo o esquema envolvendo as pesquisas com pessoas como ela, mas está principalmente procurando por Noah. Hmkay. Pontos favoráveis para Hodkin por a) conseguir criar momentos de real terror e b) não ficar de melação com o Noah, deixando que o casal só se reunisse novamente num momento bem avançado da leitura.

Fora isso olha, foi puxado.  A cada explicação de gene não sei das quantas, o passado da avó de Mara e afins não tinha como deixar de pensar “precisava mesmo dessas explicações?”. Eles têm uma modificação genética, pronto. Toca em frente, faz umas cenas tipo a Mara tirando o negocinho da barriga e o livro ficaria ótimo. Mas parece que tem muito mais explicações do que cenas assim, e no final a trilogia meio que confirma o que já suspeitava: poderia ter sido um livro só.

(também não tem citação, mas o Jamie é cheio das sacadas nérdicas então fica aí o joinha para ele)

Nadando de Volta Para Casa (Deborah Levy): O Tuca já tinha comentado sobre esse livro ali no post sobre The Vacationers. Concordo com ele, a vibe é parecida, só que Nadando é bom. Não vou dizer que é a melhor leitura do ano e blablabla, mas gostei bastante da proposta (a garota estranha mexendo com a vida das pessoas da casa de veraneio), mais ainda, do modo como foi desenvolvida.

A narrativa é bastante fragmentada e o foco vai saltando de uma personagem para outra, brincando um pouco com aquilo que sempre comento por aqui sobre como uma história pode ser mil histórias diferentes, dependendo de quem está contando. Isso acontece especialmente com Kitty, a estranha que aceita a gentileza daquela família de passar os dias na casa e que aos poucos vamos descobrindo que tinha outras intenções por ali que não esperar até ter quarto disponível em algum hotel da região.

Funciona, e funciona especialmente pelo desfecho, bem triste mas não um triste piegas, é comovente – e eu sinceramente não esperava. Não é um plot twist, não entenda errado. É algo que no final das contas já está anunciado desde o começo.

Eu sei o que você está pensando. A vida só é digna de ser vivida porque temos esperança de que vai melhorar e de que vamos chegar em casa sãos e salvos.

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