You see, there are still faint glimmers of civilization left in this barbaric slaughterhouse that was once known as humanity

tumblr_n7spxcXUiz1qfqx4io1_1280Então. Ia escrever sobre Subject Steve do Sam Lipsyte, abri o editor mas me dei conta que é um livro com bons momentos mas que não mexeu comigo o suficiente para sentar aqui e escrever sobre ele. Basta dizer que tem uma pitada de Tibor Fischer (alou, Sol!), que tem uma ideia bem sacada só que em determinado momento ele começa a se repetir tanto, tanto, que cansa. Seria uma novela excelente, e é um romance mediano.

Mas eis que estava aqui dando uma olhada e notei que não falava dos meus filminhos desde o Oscar e que puxa, um monte de coisa linda, imperdível e inesquecível estava nesse intervalo entre o último post e o que escrevo agora. Como não vou dar conta de falar sobre tudo, deixo os ruins e os maizomeno para lá e vou direto aos que gostaria que alguém tivesse me indicado caso eu já não soubesse deles (é um conceito meio confuso mas já explico sobre isso, peraí). Naquele esquema de sempre, uns comentários breves.

Upstream Color (idem, 2013) – Se eu fosse criar categorias variadas para os filmes que vi até agora em 2014, Upstream Color entraria no mais maluco, sem dúvidas. Mas não pense nisso como algo ruim, é um maluco legal, de prender sua atenção para conseguir chegar a alguma conclusão de WHAT THE FUCK IS THIS e coisa assim. Começa com uma mulher tomando uma droga, que “insere” um verme dentro dela que permite que o cara que vendeu a droga a hipnotize, de modo que ela faz tudo o que ele manda. O cara aproveita esse controle para roubá-la, mas a coisa é feita de um jeito que dá muita agonia, é quase uma tortura. E falando assim fica claro que o filme começa de um jeito estranho mas que você até consegue acompanhar (o verme, o controle da pessoa que tem o verme dentro dela, etc.), mas aí vai se desenvolvendo de tal maneira que não dá para tirar dali um único sentido. “O criador de porcos é Deus”, ok, amigo, mas como isso se encaixa com o começo? Entende? É filme para assistir e pensar depois, e conversar e trocar opiniões. PS: dormi vendo Primer, acho que preciso dar uma segunda chance para esse filme. Temno Netflix gringo.

Triângulo do Medo (Triangle, 2009) – Aqui o que eu dizia sobre filme que gostaria que alguém tivesse me indicado. Porque esse foi indicado – em conversa no Facebook Thiago falou que tinha certeza que eu iria gostar e bom, dito e feito, é muito legal. Ele também te faz ficar pensando sobre o que acabou de ver – não no mesmo nível que Upstream Color, não tem o mesmo efeito de estranheza – mas ainda assim deixa questões em aberto. A história mostra uma mulher indo passar um dia num barco com os amigos. Nada demais, eu sei. Só que chega uma tempestade bizarra do nada e eles só se salvam porque tem um barco passando ali perto no momento. E a partir daí eu não posso falar muito mais, a ideia é que você vá assistindo, tentando adivinhar o que vem a seguir. Enfim, bem bacana, e agradeço a indicação – e por isso passo em frente, para quem curtir filmes do gênero.  Um leve palpite que saiu direto em locadora aqui no Brasil.

Ruby Sparks: A namorada perfeita (Ruby Sparks, 2012) – Considerando minha queda por histórias com escritores (sério que você não percebeu isso ainda?), até que demorei para assistir Ruby Sparks. Escritor está lá no meio de um bloqueio criativo (meu deus, são quantas histórias que começam assim?) e aí incentivado pelo terapeuta cria uma personagem, sim, a guria do título. O detalhe é que ela ganha vida e tudo o que ele escreve passa a ser real. Se ele escreve “Ela fala francês fluentemente”, Ruby automaticamente fala francês.  Gostei porque é uma metáfora bem óbvia sobre como somos idiotas tentando mudar uma pessoa para que elas se encaixem no nosso ideal de amor (“fica esperando alguém que caiba nos seus sonhos…“), e ok, é cute. Se bem que é complicado dizer que é cute considerando a cena de confronto entre Ruby e Calvin, aquilo doeu um monte. Tem aquela pinta de Eternal Sunshine da década de 10, com menos fãs chatos.

O Duplo (The Double, 2013)Submarine virou tipo um filme favorito desde que assisti, então ler o nome do Ayoade em algo já faz minha vontade de assistir aumentar. E aí fui assistir O Duplo pensando que seria fofo e nhóóóc como o trabalho anterior do diretor e tomei um baita susto. Mas um susto bom, porque ele não tem nada a ver com Submarine mas é ótimo mesmo assim. O filme é baseado em uma obra do Dostoiévski, contando a história de um sujeito tímido e covardão que passa a ter que conviver no ambiente de trabalho com um sujeito que é fisicamente idêntico a ele, mas se comporta como seu completo oposto e (surpresa!) acaba conquistando tudo o que o protagonista queria em sua vida mas nunca conseguiu. O que chama a atenção no filme é principalmente o visual. Gostei de como o Ayoade usa um monte de objeto antigo para situar a história em um tempo que não existe: não é atualmente, mas não é nosso passado. Tem aquele tom de pesadelo, tipo em O Ladrão de Sonhos e Delicatessen do Jeunet. Muito bom. Favor não confundir com O Homem Duplicado, que é baseado em um livro do Saramago. Previsto para 4 de Dezembro no Brasil, mas se você não aguenta esperar, já tem no Netflix gringo.

O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel, 2014) –  Como dóóóói falar desse filme em um breve parágrafo. Que coisa linda. Linda assim, de estar em primeiro lugar na minha lista de filmes que estrearam no Brasil em 2014. O título desse post é uma fala de uma personagem desse filme. Eu fiquei voltando e revendo algumas cenas como não fazia há muito. E é tão simples, como pode, né? A história mostra o encontro entre um escritor e o dono de um hotel decadente, onde o último conta histórias dos momentos de glória do local. Acho que o que mais me pegou ali foi a ideia de um mundo destruído com a guerra. Tem um negócio que eu não deixei de pensar desde que vi no fim que o filme é baseado nos escritos de Stefan Zweig. Alguém já leu a carta de suicídio do autor? Segue assim:

Eu sei que a personagem que representaria o Zweig seria a interpretada pelo Jude Law (inclusive ele menciona uma viagem à América do Sul lá no final, o que bate com o fato de Zweig ter vivido seus últimos anos no Brasil), mas tem algo no M. Gustave (que personagem! ) que me fez pensar bastante nessa relação da desilusão de Zweig por um mundo que com as guerras não mais existia (ele se matou durante a segunda guerra, em 42 e, vale lembrar, era judeu), desilusão tão grande que o fez simplesmente optar por se matar, e de como M. Gustave representava justamente esse mundo. a pessoa civilizada, tolerante num mundo cada vez mais intolerante.

Este último trecho eu copiei de um post meu lá na Valinor, há.

Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive, 2013) – E eis que no mesmo mês (junho, o que foi ótimo, porque depois o Augusto nasceu e ficou difícil ver filme) eu vi dois dos que estão no meu top3 de 2014. Se for pensar em termos de enredo temos a história de um casal de vampiros, Eve e Adam. Ao mesmo tempo que Adam passa por uma crise – um cansaço enorme da humanidade com quem tem que conviver – a irmã de Eve, Ava, chega para visitar [narrador do Sessão da Tarde](e apronta altas confusões que vai agitar essa galerinha[/narrador do Sessão da Tarde].

Quem melhor definiu esse filme na minha opinião foi o Quickbeam lá na Valinoruma declaração de amor por tudo o que de mais belo a humanidade já foi capaz de conceber. É isso. Como comentei por ali: fui ler a opinião do pessoal no imdb por curiosidade, e tem tanta gente levando tudo de forma tão literal que eu fiquei até achando que eu estou aloprando demais (para ter ideia, tem uma discussão sobre eve ler ou não ler os livros quando está selecionando a bagagem para Detroit, com argumentos como “se ela pode ler um livro em segundos, por que levaria para outra cidade?”). E com isso muita gente acusa o filme de ser parado, nada acontece, feijoada.

Mas o filme é absorvente. Aliás, eu tenho cá para mim que as duas horas do filme são muito mais um exercício de mostrar como seria a vida de seres imortais com centenas de anos do que uma narrativa típica com conflitos acontecendo de modo a manter o ritmo da história. E talvez até por isso achei o filme genial: porque desse jeito podemos ver como eles perdem a noção de tempo (o estetoscópio que Adam carrega quando vai buscar o sangue), como tentam lidar com o tédio (Adam criando música, Eve propondo para Marlowe que fizessem algo para plantar “um pequeno caos”), os anos de conhecimento acumulado (a cara de enfado de Adam para a fiação em Tânger é impagável), e mesmo a relação deles com os humanos (que é algo mais complexo do que parece de primeira: eles não matam, o que denota um certo respeito, por outro lado falam deles como adultos falam de adolescentes irresponsáveis).

Enfim, fantástico, até porque fora a parte visual (aquela cena do disco rodando e então Adam e Eve sendo vistos de cima com a câmera também rodando ficou muito legal), o filme se permite silêncios e sutilezas na medida certa. Aquela cena em que Eve sai de casa para encontrar Marlowe na primeira vez é ótima para ilustrar isso que eu quero dizer. Temos apenas Eve circulando por ruazinhas e becos, mas a segurança dos passos e do olhar de tilda, mesclados à trilha sonora perfeita – você vê claramente que ela ali é uma predadora, sem que em nenhum momento tenha que vir alguma fala de sua boca dizendo “somos predadores, Louis” (oops).

E deixo aqui o video de uma cena do filme porque a música é linda (a trilha toda é, mas essa é a melhor):

Frank (idem, 2014) – Eu tinha acabado de ver o Fassbender todo lindão e poderoso e fodão e (ok, parei) como Magneto lá no X-Men (que ó, tá joia, curti) e aí já vejo outro em que ele também faz parte do elenco. Detalhe: aqui ele encarna Frank, um gênio da música que não curte muito mostrar o rosto e por causa disso está sempre usando uma cabeça de plástico gigante. O ponto de vista da história é de Jon, um sujeito que sonha em fazer sucesso como músico, e que um dia encontra uma oportunidade de tocar com Frank e sua banda, os Soronprfbs (copiei e colei, admito).

Negócio é que eles são todos meio malucos (alguns realmente passaram um tempo em um hospital psiquiátrico), e o que cada um espera daquela união é bastante diferente, o que obviamente cria uma série de conflitos.

Gostei de como o filme insere essa nossa cultura de internet e smartphones de um jeito que sai do artificial. Aliás, o modo como os tweets de Jon aparecem na tela é bem legal, uma saída quase tão bem sacada quanto a de Sherlock.

Enfim, é doce, é engraçado. E tem algo no desfecho, com o Fassbender cantando I love you all para seus maluquetes que fez com que eu me identificasse imediatamente. Ao pessoal que pensou “Pirulito de Jaca”, vai se catar.  Em outras notícias, Fassbender como vocalista lembra muitão o Nick Cave. Ah, sim: todas as músicas foram tocadas pelos atores no filme.

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E é isso. Antes do top10 2014 tento voltar para mais um nesse estilo – já passei da fase de me iludir de que no momento consigo ver filme *e* escrever sobre eles no mesmo ritmo de antes do Augusto que, sejamos honestos, já não era grande coisa.

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