Les revenants

A primeira vez que ouvi falar sobre Les revenants lembro que a definição era “série de zumbis francesa”.  Antes de começar a assistir de fato fui atrás de outras informações e então descobri que ainda conta com só uma temporada (oito episódios iniciados em 2012), que a segunda temporada tem previsão de estreia para a segunda metade de 2014 e que a série é uma espécie de remake de um filme de 2004 dirigido Robin Campillo. Hum, sim, também vi esta imagem aqui da publicidade:

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E achei que tinha tudo para gostar e lá fui eu, dar uma olhada nessa primeira temporada. Já no primeiro capítulo já fiquei bastante interessada, até porque fugia do que já é mais conhecido nas histórias de zumbis: você não via cadáveres se decompondo andando de um lado para outro, mas pessoas normais. Até por causa disso, acho que a nota principal de Les revenants acabou ficando com o drama ao invés do terror, apesar da história central. Esta primeira temporada é muito mais sobre como os vivos se relacionarão (ou ainda, lidarão) com os mortos-vivos do que com sustos causados por comedores de cérebro, digamos assim.

Cada um dos oito episódios se concentra em um dos moradores de uma pequena cidade francesa localizada entre montanhas e perto de uma represa, ao mesmo tempo que vai aos poucos apresentando os “revenants”. O primeiro conta como Camille, uma adolescente de 15 anos, retorna para casa quatro anos após o acidente com o ônibus escolar que a matou junto com outros tantos colegas. Aqui, fica nítida a dor dos pais que perdem o filho, e da dificuldade de seguir adiante mesmo que exista um outro filho (no caso, a irmã de Camille Lena). É talvez a história mais forte e a linha principal da série, junto com a de Simon (o noivo que morreu no dia do casamento há dez anos).

Como deu para perceber, não há um padrão entre os que voltam, alguns morreram há 35 anos, outros há pouquíssimo tempo. Homens, mulheres, crianças. Casos de amor, casos de ódio. Nada que explique a razão pela qual só aqueles estão circulando pela cidade. E considerando o modo como eles voltam, com nada que indique que estão mortos, há um momento que algumas personagens chegam a se questionar se elas mesmas não são também “revenants”. É algo muito bem sacado, até porque permite surpresas sobre quem já morreu ali e nem sabe, além de contribuir para uma série de perguntas para o telespectador, que são talvez a força principal da história.

Sabe quando você começa a acompanhar uma série por muito tempo e logo de cara já pega a estrutura inicial de cada episódio? “Naquela primeira cena de House o doente nunca será a pessoa que desconfiamos”, etc? Então. Em Les Revenants você percebe que também há um padrão: o final de cada episódio vem com alguma novidade imprevisível que te faz soltar aquele WUUUUUUUT? e lógico, tocar logo o outro episódio para saber o que vai dar daquilo.

O problema é que muitas vezes não dá em nada. Não sei se é economia para futuras temporadas, mas é meio frustrante depois de oito episódios ver que o saldo de perguntas é maior do que o de respostas. Pode ser uma desconfiança boba que veio depois de ver muita série que acabou se perdendo ao longo dos anos, mas dá um medo de que algumas das perguntas sem respostas sejam na realidade derrapadas do roteiro que nunca mais serão explicadas, mas aí já é mais uma questão de impaciência minha, eu sei. Só para deixar registrado, segue lista de coisas que não vou ficar feliz se não explicarem antes de acabar:

SPOILER: clique no botão caso queira ler
– Lena morreu quando o pai bateu nela? O que é aquela cicatriz dela?

– Por que Simon tentou se matar?

– Como foi que Adéle voltou tão rápido, ao ponto de nem perceberem que ela tinha morrido?

– Aquele pessoal da floresta são todos os mortos quando a barragem da represa antiga rompeu ou são outros mortos?

– Qual é a da Lucy? Ela morreu no ataque do Serge ou já estava morta quando chegou na cidade?

– Quem matou a família do Victor e por quê?

etc.

Eu tenho visto muitas reclamações sobre o último episódio, de que chegou num ponto que tinha tanta coisa estranha acontecendo que a história chegou até a ficar confusa. Talvez seja um pouco do que acabei de comentar, de ter um monte de pergunta sem resposta, de qualquer modo algo que eu gostei bastante é como aos poucos aquela situação inicial que descrevi (ser mais drama do que terror) começar a se inverter. Por exemplo, as cenas com os vários mortos envoltos numa névoa é arrepiante, se você pensar que são todos, hum, zumbis.

E eu gostei muito do trabalho de desenvolvimento das personagens, de como em qualquer trama de cidadezinha pequena “nada é o que parece”, mas de como colocam aquilo de um modo fluido, sem ser forçado. Alguns detalhes sobre as personagens são bem previsíveis, mas mesmo assim são tão bem exploradas que não tem como não gostar. A relação de Camille e Lena, por exemplo, desde o começo já dava para sacar que não eram “só” irmãs, mas achei tão bem sacado buscarem as duas garotas para mostrarem a diferença dos anos que Camille perdeu. O mistério envolvendo a morte de Simon (nada me tira da cabeça que não foi o que dizem ser), o modo como Victor e Julie passam a depender um do outro… enfim, é muito legal. Acho que de todas as histórias a única que não gostei foi a do Serge, até porque convenhamos, numa cidade pequena daquelas e tão cheia de câmeras, o quão difícil é descobrir a identidade de um serial killer, nééé.

Mas valeu, e sim, estou bem curiosa. Acho que por enquanto minha maior reclamação sobre séries europeias em comparação às americanas é esse hiato gigantesco entre uma temporada e outra (estou olhando para você, Sherlock). O negócio agora é dar uma olhada no filme e ver o quão diferente é da série enquanto a segunda temporada não chega. Ah, sim, antes que eu me esqueça: está passando no HBO Max aqui no Brasil. Pelo site do canal dá para ver quando cada episódio passará.

PS. Se lá naquela minha lista alguém sentiu falta de “Por que as pessoas voltaram dos mortos?” volto a lembrar que para mim a regra número um das boas histórias de zumbi é não explicar a origem deles. Então por mais que fique claro que tem algo a ver com a represa, eu prefiro a história do jeito que está: dando apenas algumas dicas, mas deixando em aberto para quem vê tirar suas próprias conclusões.

2 comentários em “Les revenants”

  1. Eu sinceramente acho que em algum ponto será explicado o porquê dos mortos terem voltado. Não sei bem porque eu acho, mas é uma sensação….

    Me apaixonei por Les Revenants desde o início. Tento vender para todo mundo, mas infelizmente nem todo mundo compra a minha paixão, hehehe.
    O interessante é que eu já vi esta imagem promocional que você postou lá em cima um milhão de vezes, mas só hoje é que eu me dei conta que o Simon aparece no reflexo do rio o.O.

    1. Eu também acho que vão explicar, mas não estou muito ansiosa sobre isso. acho que provavelmente terá algo a ver [spoiler] com o primeiro rompimento da barragem, já que se eu não me engano não tem morto anterior ao rompimento que voltou[/spoiler]. mas assim, eu fico muito mais encucada sobre as questões do passado das personagens em si do que o que fez com que elas voltassem.

      Sobre a foto, eu demorei pra notar que era o Serge na foto com a Lucy hahhaha =F

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