Fenômenos Paranormais (Grave Encounters)

220px-Grave-Encounters-Poster-2011Sempre que sai um novo filme no estilo “found footage” eu lembro de A Bruxa de Blair. Eu sei que não foi o primeiro filme nesse formato, mas marcou bastante porque a primeira vez que ouvi falar dele foi uma amiga dizendo que ficou sabendo de uma história sobre um pessoal que se perdeu na floresta, que aí fizeram um filme com as imagens que foram encontradas em uma câmera encontrada perto de onde eles estavam acampando. Essa mistura entre ficção e realidade dava tintas de lenda urbana, deixando a coisa toda ainda mais assustadora. É fato que quando o filme finalmente chegou aos cinemas eu já sabia que era só um filme, mas ainda assim era inegável que a “moldura” para a história era bem interessante.

Pule aí mais de dez anos do já conhecido processo da indústria cinematográfica, de recriar/copiar fórmulas ou ideias que deram certo buscando novos sucessos de bilheteria, e é evidente que quando chega um filme como Fenômenos Paranormais (Grave Encounters) você pensa que ele não pode oferecer mais nada de novo: oras, não basta ser um “found footage“, ainda por cima a premissa básica é de um grupo de investigadores de eventos paranormais gravando um programa para a tv em um hospital psiquiátrico abandonado. Ou seja: todos os elementos das últimas décadas do que foi criado em horror norte-americano. Mããããs… tanto blog de horror que eu acompanho falando desse filme, tive que conferir. E uou, não é que a mistura de clichês dá liga?

Antes de continuar a comentar, duas coisas: primeiro, estou falando só do primeiro filme, não vi o segundo (e ouvi falar muito mal do segundo, então…). Segundo, se for assistir, tenta seguir as condições normais de temperatura e pressão: veja sozinho e à noite. Duvido que você vá dormir tranquilo depois.

Fenômenos Paranormais funciona bem porque a história é bem montada. Os elementos são colocados aos poucos, aumentando a tensão sem aquela pressa típica de oferecer uma sequência de sustos ao invés de realmente criar uma atmosfera de horror. Começamos com a equipe ainda durante a manhã entrevistando pessoas que trabalham no local, perguntando sobre histórias envolvendo fantasmas. Dá para perceber que eles são bem picaretas, principalmente quando chega o “médium”: a ideia é coletar material para deixar uma série de sugestões ao telespectador, de modo que uma simples porta batendo já será assustadora na hora de editar as imagens para o programa. A proposta do show é de a equipe passar oito horas (à noite) trancados no local, avaliando a presença ou não de fenômenos paranormais. O zelador tranca a porta e…

… aí que as coisas começam a ficar assustadoras. Inicialmente ainda estamos no mesmo nível do que seriam os telespectadores do programa, lembram das sugestões? Alguns lugares que foram marcados com o ‘x’ ainda durante a fase de investigação obviamente nos deixam mais tensos, porque afinal de contas, esperamos que algo aconteça ali. O negócio é que aos poucos a história vai tomando um outro caminho, bastante inesperado e engenhoso. Começa mais ou menos quando a garota Sasha faz perguntas para tentar registrar alguma tentativa de comunicação com os espíritos, e então claramente a câmera flagra o momento em que algo faz com que o cabelo dela se mexa:

Assustados, todos voltam para o sagão (não sem antes seguirem algumas regras básicas dos filmes de terror, do tipo “vamos nos separar”, hehe). A partir daí, eles se dão conta de duas coisas (e aqui vai um baita spoiler, então seria legal se você pulasse para o próximo parágrafo): a primeira é que o hospício virou um tipo de labirinto. O lugar em que eles estavam antes marcava a porta de saída, mas quando tentam arrombá-la, acabam encontrando um novo corredor. E assim segue, ao longo da história, com cada tentativa de um novo caminho sendo frustrada por uma mudança no que seria o labirinto. A outra coisa que eles percebem é que o tempo não está correndo normalmente, já que passaram mais do que as oito horas programadas para eles, e mesmo assim não só o zelador não aparece para abrir as portas, como também não surge a luz do sol. Chega um ponto em que já foram 40 horas presos lá dentro, a comida estragada, apenas um pouco de bateria nas câmeras e nem sinal de achar uma saída.

Calculem então o que dá a soma de um ambiente completamente claustrofóbico com as sugestões colocadas lá no começo da história. Por exemplo: quando ainda estão fazendo entrevistas, o apresentador do programa conta para o público que aparentemente os fantasmas que estão ali não são só do tipo que repetem e repetem uma ação, mas daqueles que fazem algo, ou seja, tem a capacidade de fazer mal para qualquer pessoa ali. Só com essa sugestão não precisava nem aparecer fantasma para você ficar com medo, embora eles apareçam eventualmente, e também de uma forma bastante clichêzona, mas que ironicamente acaba sendo assustador porque você está envolvido pela atmosfera da história. Assim, que mais dá medo em Fenômenos Paranormais não é a suposta presença de espíritos, mas o lugar em si e o que ele vai fazendo aos poucos com a equipe do programa.

Depois de ter dormido mal pra caramba imaginando a guria fantasma na porta do meu quarto, a conclusão que eu pude chegar sobre o filme é que às vezes somos meio obcecados pela busca do original, de algo nunca feito antes, e acabamos esquecendo que às vezes como uma história é contada pode ter muito mais peso do que a história em si. Acabei gostando tanto que estou até pensando em arriscar e ver a continuação, por mais que o pessoal tenha falado mal. Para quem ficou curioso, vai aí o trailer:

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