Zodíaco (Robert Graysmith)

ZODIACO (CAPA).inddO assassino Zodíaco faz parte daquela galeria de criminosos que acabaram ganhando um estranho status de celebridade. Tal como Jack, o Estripador, ele costumava enviar cartas zombando do fato de a polícia não conseguir capturá-lo – o que de fato não ocorreu até os dias de hoje, mais de 40 anos após os primeiros assassinatos começarem a assombrar San Francisco nos Estados Unidos. Não tendo uma solução para o mistério (o que por si só é bastante frustrante), chega a ser curioso como Zodíaco de Robert Graysmith entrou na minha lista de livros policiais favoritos.

Na época em que Zodíaco começou a atacar Graysmith trabalhava como cartunista no jornal San Francisco Chronicle, e estava presente no momento em que a primeira carta para o editor do periódico chegou. Por conta disso, se envolveu de tal forma com as histórias dos crimes que resolveu investigá-los por conta própria, para tentar encontrar a resposta para quem era o homem que dizia ter matado quase 40 pessoas.

Graysmith é um investigador obstinado, mas mais do que isso, obcecado. O livro deixa isso extremamente claro, especialmente se percebermos que ele não cobre apenas o intervalo de tempo nos quais os assassinatos ocorreram, mas muitos anos depois dos eventos (até julho de 1984). Há no final de Zodíaco uma lista com supostas vítimas (ultrapassando até as 37 que o assassino alegava ter matado) e informações tão detalhadas sobre o modus operandi do criminoso que chega até mesmo a surpreender.

Fora os textos adicionais (o que inclui até comentários escritos após a adaptação cinematográfica do livro com David Fincher na direção),Zodíaco é estruturado da seguinte maneira: primeiro intercala capítulos narrando os assassinatos (com nome das vítimas) com capítulos intitulados como Zodíaco, mostrando as buscas pelo serial killer e os contatos desse com a polícia e os jornais. Depois, passa a intercalar capítulos falando dos principais suspeitos com os já mencionados capítulos Zodíacos. Essa estrutura empresta um ritmo para a narrativa que faz com que o leitor não consiga abandoná-lo, mesmo sabendo que no final não terá uma resposta para a pergunta principal: Quem é Zodíaco?

Falei em livro policial inicialmente porque embora trate-se de uma obra de não-ficção, Zodíaco pode ser lido como um romance,e nesse sentido não deve nada para os grandes escritores do gênero. Alguns capítulos chegam a ser agoniantes, de tão tensos, como o que fala de Kathleen Johns. É evidente que o que faz das histórias algo ainda mais assustador é o fato de que são reais, que aqueles relatos não são criação de um escritor. Que uma pessoa realmente passou por isso. E que o Zodíaco continuou circulando por aí muito tempo depois de parar de escrever cartas para a polícia e os jornais.

É realmente assombroso o modo como Graysmith conseguiu descobrir coisas que nem mesmo pessoas treinadas da CIA conseguiram descobrir, e mais ainda, como ele consegue reconstruir de forma tão clara os acontecimentos daquela época. Como dito antes, é uma prova óbvia de que ele acabou, tal como Toschi (um dos detetives encarregados do caso) dedicado muito de sua vida para encontrar uma solução para o caso.

E se por acaso o leitor realmente faz questão de uma resposta, embora lide com três nomes principais para suspeitos (e infelizmente utilize pseudônimos para se referir a eles), ainda assim sutilmente ele parece indicar quem acredita ser o Zodíaco. Assim, cabe ao leitor aceitar entre as opções: ou o suspeito favorito de Graysmith, ou a ideia de que nunca ninguém saberá quem foi o homem que aterrorizou San Francisco por tanto tempo.

Atualizado 28/02/2013: Comentei sobre a adaptação em dois posts aqui no Hellfire, mais brevemente na minha lista de melhores filmes de 2007 (Zodíaco ficou em terceiro) e outro um pouco mais detalhado escrito em 31/07/2007,

(Post originalmente publicado no Meia Palavra em 25/05/2012)

2 comentários em “Zodíaco (Robert Graysmith)”

  1. Que bom ver que você curtiu o filme, Anica! Só conheço você e eu, rs.
    Comprei o livro por sua causa (já conhecia a historia e li outros livros sobre) mas não li até hoje por motivos de: medo. rs

    1. eu acho que o pessoal que não gostou foi pq queria uma solução para o caso mais óbvia e definitiva, sabe? e sabe o que é engraçado? eu não lembro de ter sentido medo durante o filme como acontece durante a leitura do livro. sério, é tenso. O_o

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