As vantagens de ser invisível (Stephen Chbosky)

As Vantagens de Ser InvisívelNota: Este post foi publicado originalmente no Meia Palavra em abril do ano passado. Eu estava mantendo o histórico no meu blog-arquivo, mas como algumas pessoas andaram pedindo que eu republicasse o texto, estou colocando aqui para vocês. Sobre o filme, eu dei minha opinião neste post aqui.

Não há nada mais bacana que ter um livro em mãos sem qualquer expectativa e ser surpreendido pouco a pouco com o que ele tem a revelar. Com The Perks of Being a Wallflower, de Stephen Chbosky (lançado aqui no Brasil pela Rocco como As vantagens de ser invisível), foi exatamente assim. Comecei a ler porque depois de Psicopata Americano eu queria algo mais leve, para passar o tempo mesmo. E Perks parecia a escolha ideal: livro para jovens publicado originalmente em 1999, mas que se passa em 1991, trata-se de um romance epistolar mostrando um pouco da vida de Charlie, um adolescente de 16 anos que acaba de começar uma nova etapa na vida de estudante. O melhor (e único) amigo acabou de se suicidar, e como ele se encontra completamente sozinho, resolve enviar cartas para uma pessoa que ele não conhece, comentando sobre tudo o que tem vivido.

Falando assim, parece mais um daqueles livros infantojuvenis que já vimos aos montes, mostrando as dificuldades de amadurecer, entrar em um novo mundo. E muito embora este seja um dos inúmeros temas explorados no livro, ainda assim não é o principal. Há tanto em The Perks of Being a Wallflower que reduzi-lo a isso seria até um pecado. Não falo sobre desenvolvimento da narrativa, que fora um aspecto que comentarei a seguir não é exatamente inovador. Mas o enredo em si, e o que Chbosky faz com as personagens (e consequentemente com o leitor) chamou minha atenção.

A começar com a naturalidade com a qual o autor fala de temas pesados para a idade, como o suicídio, gravidez indesejada (e aborto) e drogas. Não há uma mistificação de nenhum desses assuntos, eles apenas acontecem, como aconteceram com amigos nossos (ou mesmo conosco, dependendo do caso). Um ponto fundamental para que isso aconteça é a inocência de Charlie, o narrador-protagonista, que em suas cartas parece ser muito mais novo do que os 16 anos que diz ter. Quando conhece os veteranos Patrick e Sam, um novo mundo surge para ele, cheio de novas experiências, que em muitos momentos ele vive apenas como observador – mas é um observador neutro. Ele não parece se chocar (pelo menos não facilmente) com o que vai conhecendo.

É aí que você começa a reparar que tem algo errado com Charlie. Não só a inocência, mas outros elementos que o autor vai colocando aos poucos na história (e aqui chego ao que achei um recurso interessante usado na narrativa). O adolescente tímido começa a parecer mais do que isso quando fala do nada do psiquiatra ou de quando foi internado em um hospital. Fala quase como se comentasse o tempo, como se aquilo não fosse nada demais, e o leitor mais desatento pode até deixar isso passar batido. Aos poucos Chbosky vai nos prendendo na trama justamente com esse segredo: quem é Charlie? O que há de errado com ele?

Não quero estragar a surpresa de ninguém como acabei eu mesma estragando a minha ao ir pesquisar sobre isso na internet antes de terminar o livro. Então, se você tem algum interesse em ler The Perks of Being a Wallflower, por favor, pule para o próximo parágrafo. Pulou? Ok, eu avisei. A questão é que eu já sabia o que havia de errado com Charlie (ele fora molestado pela tia que tanto amava), mas o modo como ele mesmo se dá conta disso torna tudo tão chocante e tão triste que quase não fez diferença ficar sabendo disso antes.

Aliás, se você é mais sensível, prepare-se para rir e chorar com Charlie. Mesmo. As personagens são tão cativantes, especialmente o protagonista e sua inocência, que não tem como não se apegar e simplesmente se deixar levar pelas emoções do garoto. Há momentos lindos, que me fizeram ficar até ansiosa para ver a adaptação para o cinema, como o momento em que Charlie diz que ele, Sam e Patrick são eternos, voltando de uma festa. E há tanta verdade no que o menino diz, e tanta coisa que nós mesmos esquecemos ou fingimos esquecer, que não tem como não se emocionar com sua transparência.

É realmente uma ótima experiência, gostaria muito de ter lido o livro quando mais nova, provavelmente teria gostado ainda mais. E para quem ficou curioso sobre o filme, ele será dirigido pelo próprio Stephen Chbosky, com Emma “Hermione” Watson como Sam, e chega lá fora em setembro deste ano. O negócio é torcer para que chegue nos cinemas aqui do Brasil também.

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