Sussurro (Becca Fitzpatrick)

Vamos partir de alguns princípios: sim, os clássicos são bons. Aguçam a mente, provocam e são inesquecíveis. Mas não há nada de errado em, de quando em quando, pegar um livro que serve para puro entretenimento, tipo aquela infinidade de títulos chicklit. Não, não estou justificando o que seria meu “guilty pleasure“, mas dando um conselho para quem ainda acha que tem que provar algo para alguém de acordo com o que lê: Não, você não tem. Ler tem que ser um prazer.

Mas é óbvio que ao avaliar um livro voltado ao público juvenil você não vai querer encontrar nele Shakespeare ou Virginia Woolf. Você sabe que o que tem em mãos são algumas horas de diversão, e que se o livro cumpre esse propósito, valeu a pena a leitura. É o caso de Sussurro, de Becca Fitzpatrick. Seguindo a nova onda do momento, o elemento sobrenatural da história são anjos. A premissa é basicamente igual a todos os livros juvenis que têm saído atualmente: a menina se encanta pelo rapaz sabendo que não pode se deixar seduzir, e eles enfrentarão algum perigo por conta dessa aproximação.

Se a premissa é a mesma, é óbvio que o que agrada em Sussurro é o modo como Fitzpatrick a desenvolve. Para começar, há uma redução drástica na sacarina, com a história apresentando muito mais ação do que melação. Ok, ação no melhor estilo coleção vagalume, e em alguns momentos até meio sem pé nem cabeça, mas ainda assim divertido.

Patch também é uma personagem interessante, porque sai daquela linha de produção dos “bons moços” literários. É o típico cafajeste, que fala um monte de bobagens para Nora e em muito a seduz até por causa disso. Também não espere beijos recatados, muito embora a protagonista (como em todos os outros livros do gênero) seja o exemplo de filha perfeita e ajuizada que leva uma vida praticamente sozinha.

O mistério da história praticamente inexiste, já que todos sabemos que trata-se de um romance com anjos. Mas é interessante ver qual é o tipo de anjo, e bem, os outros desdobramentos da trama. Mesmo entregando o ouro já no começo, Fitzpatrick ainda consegue deixar algumas interrogações no ar, prendendo a atenção do leitor.

Foi divertido e cumpriu seu propósito. Não penso em continuar lendo a série (cujo nome é Hush, Hush), mas já fui procurar uma coisa ou outra sobre o segundo livro (chamado Crescendo) para ver se a autora ainda tinha alguns coelhos para tirar da cartola, já que para mim Sussurro parecia já ter concluído tudo. Aparentemente sim, tem algumas pontas soltas como o que aconteceu com o pai de Nora e o nome verdadeiro de Patch. Nada que eu realmente tenha curiosidade de saber, então fecho a conta com Sussurro mesmo.

8 comentários em “Sussurro (Becca Fitzpatrick)”

  1. Fábio Kabral – Fábio Kabral é escritor, autor dos romances “Ritos de Passagem” e “O Caçador Cibernético da Rua 13“. Escreve também em seus blogs e redes sociais. Ator formado pela Casa das Artes de Laranjeiras, estudou Letras na UFRJ e na USP. Um dos fundadores do site “O Lado Negro da Força“. Já trabalhou como ator, dublador, livreiro e analista de mídias sociais. Palestrante de temas relacionados a afrofuturismo, afrocentricidade, candomblé, literatura fantástica, cultura pop e criação literária. Iniciado no candomblé e filho de santo do terreiro “Ilê Oba Às̩e̩ Ogodo“.
    Cabral disse:

    Esse livro é bastante procurado pelas menininhas, lá na livraria. Valeu pela resenha esclarecedora.

    1. vc está trabalhando em livraria, é? que sonho ^^ eu acho que faria até trabalho voluntário em livraria se não tivesse que pagar o leitinho do arthur hehehe

  2. concordo com você. Acho que muitas vezes as pessoas querem mais chamar atenção para sua própria intelectualidade (suposta), do que realmente aproveitar a leitura (acho até que voce ja fez um post mais extenso sobre isso).

    Creio que existe uma diferença muito grande entre algo feito para entretenimento mais rápido e literatura realmente ruim.

    Exemplos: Paulo Coelho, eu dei uma lida em um livro, pra saber do que se tratava, mesmo, admito, com preconceito (pelo tema); não consegui terminar de ler o livro. Achei simplesmente intragáveis as falhas gramaticais, o enredo, tudo me chateava.

    Já Dan Brown, eu consigo me divertir lendo. Não vejo grandes valores literários, verdade, mas me deixa entretido, me faz querer saber o que vai acontecer.

    Confesso que nunca li (e provavelmente não vou ler) livros como Sussurro ou Crepúsculo, mas não por, de antemão, acreditar que são subliteratura, mas realmente por não me interessar pelo tema. Mas é realmente muito raso julgar um livro por não ser um clássico revolucionário da literatura.

    Afinal, se você assim, poderíamos abolir a profissão de escritor do mundo, e tudo ficaria bem mais triste 🙂

    1. é meio que o que acontece quando o sujeito só fala de filmes independentes se achando o sabichão mas no fundo no fundo adora um filme de ação. eu acho uma bobagem tremenda. o maior problema nisso é a limitação.

      (obrigada pelo ótimo comentário ^^ )

  3. Eu sou da opinião que ninguém aguenta ler somente clássicos. Por mais arrebatadores que eles são, todos nós temos os momentos em que estamos cansados e queremos uma leitura mais tranquila, aqueles que rapidinho terminamos e não nos faz ponderar sobre diversos assuntos (pois os clássicos acabam nos fazendo ler mais, pelo menos comgo é assim).

    Eu gostei de ler sussurro por isso. Estava cansada, queria ler algo tranquilo. Talvez seja por isso que gostei dele.

    Quanto a trabalhar em livraria, se vc for trabalhar em uma saberá que metade do glamour vai embora nos primeiros 15 minutos que vc conhecer o estoque rsrs. Mas ao mesmo tempo é maravilhoso. E já aviso que dormir em uma livraria não tem sonho nenhum, só suor e trabalho duro rs.

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