Senhoras e senhores, Richard Dawkins

Quando eu tinha lá meus quinze anos de idade eu ainda sonhava em cursar jornalismo, e mantinha uma lista de pessoas as quais gostaria de entrevistar (Del Piero e Damon Hill inclusos, mas os quinze anos explicam). Depois que larguei a faculdade de jornalismo, adaptei a lista para algo como ‘pessoas com quem gostaria de bater um papo’ (metodicamente subdividida em pessoas mortas e pessoas vivas, é claro).

Recentemente uma figura que entrou em minha lista foi o Richard Dawkins. Já falei dele anteriormente aqui, na realidade, sobre um dos livros dele (Deus, um delírio). Mas a cada livro tenho o admirado cada vez mais. Agora, aproveitando a onda do sucesso de Deus, um delírio, saiu uma nova edição de O Gene Egoísta, que comecei a ler há dois dias.

Deixando de lado a importância da obra para a Ciência (porque sou apenas leitora curiosa que sequer tem background para questionar o que é levantado por ele) – e eu sei que é meio estranho deixar de lado justamente isso, mas eu queria abrir um parênteses aqui como bacharel em estudos literários (hehe) e comentar sobre o texto de Dawkins em si.

É simplesmente impossível não se deixar levar pelos argumentos de Dawkins, por causa da forma apaixonada como ele escreve. Não só apaixonada – é quase como se conversasse conosco, e não aquele blablablabla científico enfadonho. São diversas figuras de linguagem que ele aplica para tornar um assunto espinhoso como evolução (por exemplo), algo que qualquer pessoa que tenha o mínimo de curiosidade achará interessante.

E eu sinceramente acho digno de louvor uma pessoa que tire determinados assuntos do pedestal e traga para o leitor curioso. Em outros termos, é a diferença entre o chato que fala sobre qual período literário pertenceu Machado de Assis e o outro que mostra porque diabos uma obra como Quincas Borba é tão legal.

Segue um trecho de O Gene Egoísta para vocês entenderem porque Richard Dawkins entrou na minha lista de bate-papo:

“Não vou advogar uma moral baseada na evolução. Vou falar de como as coisas evoluíram. Não pretendo dizer de que maneira nós, os seres humanos, deveríamos nos comportar moralmente. Insisto neste ponto porque estou ciente do risco de ser mal interpretado por aquelas pessoas (numerosas, infelizmente) que não são capazes de diferenciar a declaração da crença num dado estado de coisas de uma defesa de como as coisas devem ser. Pessoalmente, acredito que uma sociedade baseada apenas na lei do egoísmo impiedoso dos genes seria uma sociedade execrável. Mas, infelizmente, por mais que se considere uma coisa execrável, ela não deixa, por isso, de ser verdade. Este livro se propõe, acima de tudo, a cativar o interesse do leitor. Mas, se alguém quiser extrair dele uma moral, que ele seja lido sobretudo como um aviso. Um aviso de que, se o leitor desejar, como eu, construir uma sociedade em que os indivíduos cooperem generosa e desinteressadamente para o bem-estar comum, ele não deve esperar grande ajuda por parte da natureza biológica. Tratemos então de ensinar a generosidade e o altruísmo, porque nascemos egoístas. Tratemos de compreender o que pretendem nossos próprios genes egoístas, pois só assim teremos alguma chance de perturbar os seus desígnios, algo que nenhuma outra espécie jamais aspirou fazer.”

Se cair em suas mãos, leia. Independente do que você estude ou tenha estudado em sua vida. E se tomar gosto pelo assunto, não deixe de visitar a coluna do Reinaldo lá no G1, Visões da Vida. Ele tem um jeito interessante de falar sobre o assunto, tanto quanto o Dawkins.

Um comentário em “Senhoras e senhores, Richard Dawkins”

  1. olá, gostei de seu site. Vi que estas lendo Richard Dawkins, isto é ótimo, sob minha ótica. Se queres conteúdo de autores nacionais sugiro o site “Tribuna Cética” sob endereço: breula.blog-br.com. Os editores, Stumpf e Gil, comandam pesquisas na área da Filosofia da Religião, com influência literária do grande Filósofo Friederich Nietzsche, bem como, Dawkins e diversos outros. Stumpf, com formação em música (se não me engano) atua no ramo do Direito, sendo que ele e Gil são estudantes de Ciências Juridicas em uma universidade gaúcha. Enfim, vale a pena conferir e ficar por dentro do mundo agnóstico e cético. Adorei o conteúdo do site de vcs e vou indicá-lo.

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